Com o corpo marcado pelas queimaduras de faca quente, uma jovem denunciou seu companheiro à polícia após ser submetida a tortura e cárcere privado no município de Porto de Moz, no sudoeste paraense. A vítima contou que vivia acorrentada e não podia sair de casa há dois anos. O suspeito está foragido.
A polícia tomou conhecimento do caso na sexta-feira, 2, quando a vítima, que tem 18 anos, conseguiu chegar à delegacia levada com a ajuda de uma moradora do município. A aposentada que socorreu a jovem, informou às autoridades que encontrou a jovem no meio da rua, machucada e chorando muito.
“Eu nunca tinha visto aquela menina, ela estava tão desesperada que não conseguia dizer nada, perguntei quem tinha batido nela, e ela disse que foi o marido, só pensei na polícia e corremos para a delegacia”, afirmou a moradora, que por segurança, não teve a identidade revelada.
O caso foi registrado como violência doméstica com base na lei Maria da Penha, e a polícia já solicitou a prisão do suspeito, que estava foragido nesta quarta-feira, 7.
A vítima é natural da cidade de Portel, na Ilha do Marajó, e não tem documentos. Ela se mudou para Porto de Moz há três anos, na comunidade ribeirinha do Majari. Ali, foi onde ela conheceu o acusado. segundo ela, as agressões teriam iniciado depois de alguns meses de relacionamento.
“Eu passei tanto tempo acorrentada quem nem sei contar, ele nunca me deixava sair de casa, sempre que vinha vender farinha na cidade ele trancava toda a casa e eu ficava lá dentro, sem água e sem comida, até ele voltar”, disse ela, através de uma mensagem de áudio, à reportagem da Folha de São Paulo.
De acordo com a polícia, em depoimento, a vítima contou que era obrigada a manter relações sexuais com o companheiro, e que eram marcadas por sessões de tortura. De acordo com ela, o marido esquentava uma faca no fogão e passava o objeto, quente, em seu corpo, inclusive em seus órgãos genitais. Ao conseguir convencê-lo a levá-la até a cidade sob a promessa de ficar quieta, ela consegui fugir.
A polícia solicitou exame de corpo de delito. A vítima está sendo acompanhada por uma equipe de profissionais da saúde e da secretaria da mulher, que ainda está em Porto de Moz.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública do estado, os casos de violência doméstica aumentaram 76% durante a pandemia da covid-19, sendo 12.608 casos registrados em 2020, ante 7.160 em 2019.
Em nota, a Secretaria de Assistência Social do município, informou que todos os cuidados necessários estão sendo tomados para resguardar a integridade física e psicológica da vítima.