O Pará manteve exatamente a mesma representatividade feminina no Legislativo após o primeiro turno das eleições deste ano, neste domingo (2), quando foram escolhidos deputados federais e estaduais e um senador para o próximo mandato. Dos 61 parlamentares que vão lutar pelo Estado a partir do ano que vem – três no Senado, 17 na Câmara Federal e 41 na Assembleia Legislativa do Pará (Alepa) -, apenas 12 são mulheres, o que representa apenas 19,67% dos eleitos.
Entre as mulheres que conseguiram a reeleição na Alepa estão Cilene Couto (PSDB), Ana Cunha (PSDB) e Diana Belo (MDB), mas ficaram de fora as atuais deputadas Paula Gomes (MDB), Dra. Heloísa (PSDB), Professora Nilse (PDT) e Michele Begot (PSD), que não conseguiram votos suficientes nas urnas. Marinor Brito (PSOL), que disputava o cargo de deputada federal, também não se elegeu. A Alepa ainda ganha novos nomes na bancada feminina, com a chegada de Paula Titan (MDB), Andreia Xarão (MDB), Maria do Carmo (PT) e Lívia Duarte (PSOL).
Além disso, Renilce Nicodemos (MDB) e Dilvanda Faro (PT) deixam a Casa após conquistarem vagas na Câmara dos Deputados. Outras mulheres eleitas para o Congresso são Alessandra Haber (MDB), a que mais recebeu votos para este cargo, acima de Éder Mauro (PL), que ficou em segundo lugar; Elcione Barbalho (MDB); e Andreia Siqueira (MDB). Vivi Reis (Psol), que encerra o mandato como deputada federal este ano, ficou de fora.
Antes do último pleito o número total era o mesmo. A diferença é que a bancada feminina no Legislativo estadual, que era a maior da história da Casa, com 10 deputadas (cerca de 25% do total), caiu para sete representantes mulheres, enquanto, na Câmara dos Deputados, o número de parlamentares do sexo feminino subiu de dois para cinco. O Senado segue comandado por homens.
Desafios
Na opinião da cientista política Helena Saria, a eleição de mais mulheres à Câmara é um bom sinal, apesar da perda de deputadas na Alepa. Isso porque, das duas que cumpriam mandato federal, apenas uma havia sido eleita, já que Vivi Reis (Psol) entrou para a Casa como suplente de Edmilson Rodrigues, quando ele assumiu a Prefeitura de Belém. “Na verdade, o povo do Pará só elegeu uma mulher na gestão passada, e dessa vez elegeu essas cinco deputadas para a Câmara. Isso demonstra uma grande força do eleitorado no sentido de colocar mais mulheres no poder. Acredito que foi um avanço para nós”, comenta.
Apesar da maior representatividade buscada nas urnas a cada eleição, ainda resta um longo caminho a ser percorrido para que haja uma representação proporcional. Isso porque, no Pará, dos mais de seis milhões de eleitores, 50,4% são mulheres e 49,6%, homens, mas, mesmo assim, o Parlamento está bem longe de ter metade das cadeiras ocupadas por pessoas do sexo feminino. “O número ainda é baixo. Uma representação que refletisse essa população seria uma representação paritária, a metade. Temos muito para avançar”, declara Helena.
A cientista política falou sobre a importância da representatividade no Legislativo. Segundo ela, quem faz política para mulheres são as mulheres. “Elas que propõem Projetos de Lei, intercedem nas Comissões e encaminham emendas relacionadas a todo esse universo de direitos das mulheres, que envolve muita coisa: autonomia financeira, combate à violência contra a mulher, saúde da mulher, creches, um universo de pautas, não apenas de combate à violência, mas tudo que envolve política com perspectiva de gênero. A importância de ter mulheres em lugares de poder e decisão é se sentir representada e para que consigamos levar o debate de gênero para dentro dos espaços de poder e decisão. Não à toa o mundo se parece tanto com os homens, eles estão nesses espaços”.
Apadrinhamento
Algumas das mulheres eleitas entraram pela primeira vez na política e são parentes de algum veterano. É o caso de Alessandra Haber (MDB), que lidera a lista dos deputados federais mais votados do Pará mesmo nunca tendo exercido cargo político antes, com 257 mil votos. Ela é esposa do prefeito de Ananindeua, Dr. Daniel. Todas as outras deputadas federais eleitas também têm nome forte: Elcione Barbalho (MDB), por exemplo, é mãe do atual governador do Pará, Helder Barbalho, e teve 174 mil votos. Já Dilvanda Faro (PT), é esposa do senador eleito Beto Faro, e somou 148 mil votos. E Andreia Siqueira (MDB) é esposa do prefeito de Tucuruí, Alexandre Siqueira, e teve 122 mil votos.
Na Alepa, a situação é parecida. Cilene Couto, eleita pelo PSDB, é filha de Mário Couto, ex-senador que tentou novamente chegar à cadeira nas eleições deste ano, mas perdeu para Beto Faro. Paula Titan (MDB) é filha do prefeito de Castanhal, Paulo Titan; Andreia Xarão (MDB) é esposa do prefeito de Breves, Xarão Leão; entre outras situações. Lívia Duarte é uma das poucas que conseguiram uma carreira política sem um grande nome familiar – ela, que vem da militância do Psol, agora deixa a Câmara Municipal de Belém (CMB), onde ocupava cargo de vereadora, e passa para a Alepa. Maria do Carmo, por sua vez, já foi prefeita de Santarém por dois mandatos.
A cientista política Helena Saria diz que grande parte das mulheres que ocupam espaços de poder e decisão na política vem de famílias de políticos, portanto, nem sempre têm uma agenda própria, mas sim a que vem da família ou do partido. Isso não significa, porém, que essas mulheres não possam entrar no Legislativo e se apropriar da agenda que pareça mais interessante para elas e ocupar aquele espaço. “Já vi isso acontecer mais de uma vez, mulheres que não tinham agenda de gênero e depois se aprofundaram e passaram a ter. A gente precisa muito dessas mulheres no espaço de poder e decisão”, enfatiza.
Mas, na opinião da especialista, as mulheres que não têm um nome forte também têm chance na política. Helena diz que, cada vez mais, as que não têm “apadrinhamento” político estão se elegendo para cargos nos Parlamentos e no Executivo. “Temos mulheres de outra geração, como a Benedita da Silva, Fernanda Melchionna, Erika Hilton, Manuela D’Ávila, muitas que não têm apadrinhamento e que fizeram o seu caminho com as próprias pernas e têm sua trajetória, chegaram por meio da luta ou da política estudantil ou da política sindical ou da luta por moradia popular”, diz. “Não acho que seja impossível. Tem suas dificuldades, mas a gente trabalha para isso. Acredito que o número deveria ter aumentado, mas essa é uma luta que não vai acabar amanhã. A luta nunca termina”.
Veja as mulheres eleitas para a Alepa
Cilene Couto (PSDB)
Paula Titan (MDB)
Ana Cunha (PSDB)
Diana Belo (MDB)
Andreia Xarão (MDB)
Maria do Carmo (PT)
Lívia Duarte (PSOL)
Veja as mulheres eleitas para a Câmara dos Deputados no Pará
Dra. Alessandra Haber (MDB)
Elcione Barbalho (MDB)
Renilce Nicodemos (MDB)
Dilvanda Faro (PT)
Andreia Siqueira (MDB)
Fonte: ( O Liberal)