Por 5 votos a 2, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tornou Bolsonaro inelegível por 8 anos, nesta sexta-feira (30). Ele foi condenado por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação. A defesa deve recorrer ao Superior Tribunal Federal (STF), mas, nos corredores do Congresso Nacional, cogita-se que a saída de Bolsonaro do processo de disputa presidencial para as eleições de 2026, abre espaço para a concorrência pelo voto bolsonarista para o próximo pleito majoritário.
Até então, três nomes, no campo da direita, são badalados pelos correligionários de Bolsonaro: a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL); o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos); e o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo). Também são cogitados os nomes da ex-ministra da Agricultura, atualmente, senadora Tereza Cristina (PP-MS); e o do governador do Paraná, Ratinho Júnior.
A expectativa é grande, mas o ex-presidente tem evitado sinalizações específicas. Na quinta-feira (2), perguntado sobre o assunto por jornalistas no Rio de Janeiro, que citaram os nomes de Michelle e de Tarcísio para a sua sucessão, Bolsonaro disse ter “vários bons nomes por aí”.
Sucessor pode ter êxito ou não
A eleição de Bolsonaro foi considerada um fenômeno incomum por ter conseguido mobilizar interesses difusos, que incluíam votos de evangélicos e militares. Em entrevista ao jornal O Globo, o cientista político Emerson Cervi, professor da UFPR, avaliou que há a possibilidade tanto de uma fragmentação deste campo (da direita) quanto de surgir candidato escolhido por Bolsonaro como herdeiro, embora isso, na avaliação do pesquisador, por si só, não signifique que este nome será bem-sucedido em herdá-lo.
Governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas (Republicanos)
O governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas (Republicanos) se esquiva do assunto sempre que questionado. Ele enfrenta a desconfiança de bolsonaristas por posicionamentos mais ao centro e pelo pouco espaço dado à ala ideológica na máquina estadual.
Tarcísio quase não cedeu cargos ao PL no Palácio dos Bandeirantes. Ao mesmo tempo, ele abriu um canal de diálogo com o presidente Lula e fez de Gilberto Kassab (PSD), figura rejeitada por apoiadores de Bolsonaro, um dos quadros mais influentes de sua gestão.
Governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo)
Já o governador mineiro, Romeu Zema, ganhou força como possível herdeiro por causa da forte aproximação com Bolsonaro e seu entorno, no segundo turno de 2022. O Novo não faz parte do núcleo bolsonarista, e Sema tem apostado mais no antipetismo do que nas pautas ideológicas, e equilibrando a gestão dele entre moderação e acenos à direita.
Reeleito, Zema tem um obstáculo a menos do que Tarcísio na corrida à Presidência em 2026. Mas, Bolsonaro sinalizou nesta sexta-feira (30), em viagem a Belo Horizonte, que vê o governador mineiro como alternativa para concorrer ao Palácio do Planalto, mas só a partir de 2030.
Ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro
A entrada da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro em uma campanha eleitoral à presidência, é do agrado do presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto. Ela é considerada um nome capaz de fidelizar o eleitorado evangélico e ampliar o apelo do bolsonarismo entre as mulheres, que apresentavam maiores índices de rejeição a Bolsonaro na última campanha, segundo pesquisas eleitorais.
Em 2023, Michelle assumiu a presidência do PL Mulher, braço do partido voltado ao público feminino, e tem percorrido o país com o objetivo de angariar novas filiações, além de testar o discurso político. Contudo, Bolsonaro tem desencorajado publicamente a ideia de uma candidatura presidencial de Michelle.
Ele diz que falta “experiência” política à ex-primeira-dama. Correligionários de Bolsonaro avaliam que há receio de deixar integrantes da família “na vitrine”, sujeitos ao escrutínio do público e a ataques de adversários políticos, e que por isso o ex-presidente colocou o pé no freio de candidaturas de parentes ao Executivo.
Por este mesmo raciocínio semelhante, Bolsonaro teria orientado Flávio, o filho mais velho e senador, a recuar de uma candidatura que vinha sendo articulada à prefeitura do Rio em 2024.
Senadora Tereza Cristina e governador do Paraná, Ratinho Jr
Aliados do ex-presidente cogitam alternativas, nomes que conciliam a proximidade ao ex-presidente com a capacidade de aceder a grupos tradicionalmente ligados à direita. Uma dessas alternativas, segundo a jornalista Andréia Sadi, da GloboNews, é a ex-ministra da Agricultura e senadora Tereza Cristina.
Tereza se elegeu ao Senado em 2022 pelo Mato Grosso do Sul, e tem sua base eleitoral fortemente ligada ao agronegócio. Ela é vista como um nome que mantém portas abertas no setor. Além disso, sua candidatura agrada a caciques do Centrão, que veem nela um nome mais moderado e mais confiável em relação a outros cotados.
Outra alternativa é o governador do Paraná, Ratinho Jr. Ele foi reeleito com ampla vantagem, no Paraná, onde Bolsonaro teve maior votação proporcionalmente no ano passado. No segundo turno, apesar da derrota para Lula (PT) e ter perdido a Presidência, Bolsonaro teve 62,4% dos votos válidos no Paraná.
Ratinho, assim como Tereza Cristina, também é tido como nome mais palatável para alianças com partidos de centro. Pesa contra eles dois, por outro lado, um possível desconhecimento dos eleitores de outros estados.
Confira o que têm a favor os possíveis herdeiros políticos de Bolsonaro:
Governador de São Paulo e ex-ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas tem a favor: está à frente do estado com o maior orçamento do Brasil; foi bem avaliado em seus cem primeiros dias de governo, aprovado por 44% dos paulistas; em função do perfil liberal, tem o apoio do empresariado; pode usar obras tocadas no seu período como ministro da Infraestrutura para atrair eleitores de outras regiões. Contra Tarcísio há distância da base bolsonarista após assumir o governo; não adere integralmente às pautas ideológicas; é criticado por ter participado de encontros com Lula e políticos da esquerda; Bolsonaro já disse a aliados que não o vê pronto para disputar uma eleição contra Lula.
O governador de Minas Gerais, Romeu Zema tem a favor dele o fato de ter sido reeleito no primeiro turno em MG contra um adversário apoiado por Lula; conquistou apoio de partidos do Centrão como o PP e o MDB em 2022; o histórico como administrador de rede varejista pode atrair confiança do empresariado; tem como reduto político o segundo maior colégio eleitoral e de onde saíram oito presidentes da República. Contra Zema há o fato de ele só ter apoiado Bolsonaro no segundo turno; já criticou o governo Bolsonaro; é de um partido pequeno e que não faz parte do núcleo bolsonarista; é desconhecido fora de Minas Gerais.
Fonte: (O Liberal)