Por onde passou, nos palcos e salas de concertos do mundo, Sebastião Pena Marcião, que adotou o nome artístico Sebastião Tapajós, deixou plateias encantadas com o som único que conseguia extrair do violão. A agilidade nos dedos, que se traduzia em músicas executadas com rara maestria, do clássico ao popular, transformaram esse paraense de Santarém em um gênio reconhecido internacionalmente.
Na Alemanha, país onde suas apresentações geralmente terminavam com a plateia de pé, aplaudindo-o demoradamente, ele era tratado como divindade sonora. Naquele país, Sebastião Tapajós esteve por mais de 90 vezes e gravou 30 discos. O crítico musical de um jornal alemão chegou a perguntar porque Tapajós não era reverenciado todos os dias no Brasil. Dizia que isso era uma injustiça.
O crítico alemão talvez ignorasse que, no Brasil, ninguém se faz gênio em sua própria terra. É preciso primeiro ganhar fama no exterior para ser visto aqui dentro de outra forma. Sebastião Tapajós, que morreu hoje, na cidade de Santarém, onde havia se submetido a uma cirurgia e teria alta hospitalar neste sábado, recusava qualquer rótulo sobre o talento musical que exibia.
Há mais de 20 anos, ele optou pela reclusão da vida simples e bucólica em uma casa de frente para a praia de Pajuçara, próxima da cidade de Santarém. Era difícil tirá-lo daquele refugio, mas em 2015 ele deixou Santarém para um congresso na Itália e deu uma esticada à Alemanha, onde realizou apresentações. Dois meses atrás, esteve em Belém, para uma apresentação no teatro Margarida Schivasapa, onde recebeu várias homenagens de artistas nacionais e locais.
Sebastião Tapajós era músico formado no Conservatório Nacional de Música de Lisboa. Na Espanha, estudou guitarra e composição com Emílio Pujol e foi durante muito tempo professor de violão clássico no Conservatório Carlos Gomes, em Belém. Ao longo de mais de 60 anos de carreira, tocou com nomes consagrados da música brasileira e internacional, da importância de Hermeto Pascoal, Sivuca, Paulo Moura, Waldir Azevedo, Astor Piazzolla, Gerry Mulligan, Oscar Peterson e Paquito D; Rivera.
A vasta obra que deixa é o legado de um homem que viveu intensamente para a música. E nunca perdeu suas raízes. Por isso serve de inspiração às novas gerações forjadas na arte musical. Foi um mestre para todos.
O corpo está sendo velado no plenário Benedito Magalhães, da Câmara de Vereadores de Santarém. Em nota de pesar, a Câmara assim se manifestou: “A Câmara Municipal de Santarém vem de público manifestar pesar pelo falecimento do violonista Sebastião Pena Marcião, o Sebastião Tapajós, ocorrido neste sábado, 02 de outubro de 2021.
Dessa forma, o legislativo santareno reconhece o talento e o valor desse artista para a cultura santarena, que, com seu trabalho, levou o nome da Pérola do Tapajós para vários continentes. E foi em terras mocorongas que Sebastião Tapajós escolheu para viver seus últimos dias, ficando a gratidão do nosso povo. Ao mesmo tempo, os vereadores santarenos se solidarizam com familiares e amigos desse grande artista. Ronan Liberal Júnior. Presidente da Câmara Municipal de Santarém”.
Fonte:(Ver o Fato)