Por Sílvia Lopes
“Eu estava no meu trabalho, um homem chegou e começou falar que eu era gostosa e que eu estava provocante”.
“Na minha cidade, as mulheres só conseguem emprego se ficarem com os “chefões” das empresas”.
“Ele passava por mim, oferecendo “carona”, eu recusava, com educação. Depois de uns dias ele começou a encostar e mim e vinha com aqueles “elogios” que incomodam demais (Para dizer o mínimo), “tu é muito gostosa, tua bunda me deixa doido”.
“Eu estava dentro do carro da empresa, ao chegar em casa fui descer ele me agarrou e forçou um beijo, eu senti tanto nojo e medo. Desde então, gastei metade do meu salário com mototáxi, mas não andei no mesmo carro que aquele monstro”.
“Era umas 10h da manhã, eu estava saindo da igreja. Ele saiu pelado do meio do mato e ficou me chamando. Eu saí correndo”.
“Outro dia, eu estava saindo da escola, um homem apareceu e começou a mostrar o órgão genital dele para mim”.
“A primeira vez que o vi, eu estava indo jogar o lixo fora, ele veio de bicicleta passou por mim e apertou os meus seios. Cheguei em casa chorando, contei pra minha mãe e ela riu de mim, não acreditou que por ser criança e ainda nem ter seios direito, alguém pudesse querer me assediar”.
“São situações constrangedoras e apavorantes, pois mesmo conhecendo os direitos e suportes que hoje existem, o sentimento negativo é inevitável. O assedio insulta o corpo, a mente e alma de uma mulher”.
Esses são relatos de algumas Priscila’s, Maria’s, Amanda’s, Elisa’s e Joana’s, mulheres que, em alguma fase da vida, sofreram assédio sexual.
Se hoje, você disser que não conhece ou conheceu uma mulher que não ouviu “piadinhas”, passou por situações constrangedoras, foi assediada, agredida ou assassinada, é sinal que você não tem sido uma pessoa muito atenciosa.
Um estudo feito pelo Instituto Patrícia Galvão em 2020, evidenciou que no Brasil mais de 76% das mulheres já enfrentaram violência ou constrangimento no ambiente profissional. Casos assim, apenas reproduzem o que ELAS vivenciam na sociedade de forma geral.

Voltando uns trechos acima desta matéria produzida em especial ao “Dia Internacional da Mulher”, na sua opinião, quantas mulheres acreditam na ação imediata da justiça brasileira? Quantas vítimas confiam que seus agressores serão punidos? Quantos assassinos, opressores, assediadores, abusadores, estupradores e importunadores sexuais são custodiados de imediato? Quantos casos são denunciados? Das vítimas, independente da idade, quantas desenvolvem traumas psicológicos? Quantas, por falta de apoio judicial ou familiar, não acabam por se isolar, reprimir e, nos mais graves dos casos, tiram a própria vida? Quantas enteadas, sobrinhas, filhas, primas, vizinhas, amigas e netas têm medo de relatar os abusos sofridos por anos? Você acolheria sua “menina”, da forma como ela precisa/espera ou simplesmente continuaria com “seu presente de Deus”, ao ponto de ignorar o sofrimento de uma infância/juventude perdida? A sociedade está pronta para acreditar nessas vítimas ou é apenas uma jogada de marketing quando se diz “ninguém solta a mão de ninguém?”.
E se fôssemos todas de burca, estaríamos salvas dos ataques dos abutres, dos selvagens que sequer têm competência de controlar seus desejos sexuais e saem por aí atacando mulheres que só querem ser livres, que só desejam ter o seu direito de escolha respeitados, que só querem usar a roupa de sua escolha, o decote que lhe ficou caiu bem e o tamanho da saia que quiser sem correr o risco de serem “degustadas”, “engolidas” por olhares ou palavras ofensivas?”.
É tão difícil assim nos deixar em paz e entender que “NÃO é NÃO?








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